Vamos recapitular rapidamente a situação dos conservantes em cosméticos nos últimos 15 anos?
Quando comecei a formular era muito simples conservar um produto cosmético, seja produto skin care ou hair care, bastava adicionar a associação de Fenoxietanol (INCI: Phenoxyethanol) e Parabenos. Usávamos blends prontos, como Phenova ou adicionávamos separadamente. Um sistema fácil de incorporar nas formulações, baixo custo e que não interferia na estabilidade dos produtos.
Início do fim dos parabenos
Não quero aqui me posicionar sobre o tema, mas apenas relatar o que aconteceu no início dos anos 2000, mesmo porque existem estudos controversos e todos os órgãos regulatórios autorizam o uso dos parabenos em cosméticos. Mas não podemos negar que foi nessa época que alguns estudos comprometendo o uso dos parabenos começaram a ser publicados. O resultado foi uma procura a conservantes alternativos livres de parabenos.
Liberadores de formol
São permitidos e foram muito utilizados no passado. Esse tipo de conservante como DMDM Hidantoina, Imidazolidinil ureia, Quaterniun-15 tem como mecanismo antimicrobiomiano a liberação de formol. Indivíduos com hipersensibilidade a formol respondem de forma negativa ao uso de produtos conservados com esse tipo de conservante. Sem falar que quando o consumidor escuta esse termo, “liberador de formol” existe uma rejeição natural, sabendo que essa substância já é conhecida como um agressor para a pele.
Uma nova associação
Em 2006 achávamos que tínhamos encontrado uma solução. Metilisotiazolinona associada a Fenoxietanol. Baixo custo, compatível com grande número de formulações, no entanto, não demorou para estudos revelarem um grande aumento de casos de sensibilização ao uso da Metilisotiazolinona quando usada em produtos sem enxague.
Estamos quase lá
Em 2008 uma nova classe de conservantes foi associada. Os glicóis, como o caprilil glicol e etilexilglicerina foram associados ao Fenoxietanol e deram origem a uma combinação com custo mais alto, porém livre de polêmica. Os glicóis têm capacidade de interagir com a membrana dos microrganismos, causar uma desestruturação e potencializar a ação do Fenoxietanol.
O sobrevivente
Na minha última viagem para Paris, um dos lugares que sempre vou estudar mercado europeu de produtos, me deparei com uma marca de cosméticos promovendo o apelo “Livre de Fenoxietanol” e logo me perguntei se seria o fim desse sobrevivente.
Foto tirada em Paris durante o Curso Internacional do Instituto de Cosmetologia. Ao fundo podemos observar o apelo de 0% Fenoxietanol.
A resposta para minha pergunta foi respondida este mês em uma revisão publicada no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology.
Pesquisadores de 5 Universidades levantaram informações sobre a absorção cutânea, biodisponibilidade, dose tóxica, mutagenicidade, carcinogenicidade em longo prazo, potencial de ser um disruptor endócrino, efeitos neurológicos e efeitos locais.
Conclusão? Ainda não temos motivos para abolir o Fenoxietanol. Ele pode ser um dos conservantes mais bem tolerados usados em cosméticos.
Já encontrei blogs com o seguinte título: Phenoxyethanol: Mais uma palavra suja na cosmética. Fico chateado quando sites não científicos resolvem se posicionar contra ou a favor de algumas substâncias sem levar em consideração publicações realmente científicas, os respectivos fatores de impacto e as referencias utilizadas.
Disponibilizei a referência no final desse artigo da mais nova revisão sobre o Fenoxietanol.
Atualmente temos inúmeros sistemas conservantes sendo lançados. Em cada In Cosmetics Global que participo vejo lançamentos, mas ainda temos um conservante que sobreviveu e que ainda podemos utilizar com segurança em nossos produtos.
Lembrando que o Fenoxietanol é considerado como um preservante pelos órgãos regulatórios e em casos de formulações “livres de conservantes”, teremos que buscar outras opções, mas esse assunto deixarei pra outro artigo.
Espero ter contribuído para aumentar o conhecimento dos Profissionais da saúde e Formuladores.
abraços
Lucas Portilho
1. Dreno B, Zuberbier T, Gelmetti C, Gontijo G, Marinovich M. Safety review of phenoxyethanol when used as a preservative in cosmetics. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2019;33 Suppl 7:15-24.