5% de Cisteamina x 2% de Ácido Kójico no Tratamento do Melasma: O Que Diz a Ciência?
- Lucas Portilho
- 5 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de mai.
O tratamento do melasma sempre foi um grande desafio para nós, profissionais da área da cosmetologia e dermatologia. Embora o uso da hidroquinona, muitas vezes em associação com retinoides e corticóides, seja considerado o padrão ouro, ele não está isento de efeitos colaterais importantes — como eritema, irritação, ressecamento e, em casos mais graves, a temida ocronose exógena ou leucomelanodermia em confete. Por isso a busca por alternativas mais seguras e bem toleradas, como o ácido kójico, o ácido tranexâmico e, mais recentemente, a cisteamina.
Um estudo clínico recente, publicado em março de 2025 no periódico Cureus, comparou diretamente duas dessas alternativas: a cisteamina a 5% e o ácido kójico a 2%, avaliando sua eficácia e segurança em mulheres indianas com melasma facial.
O estudo: metodologia e objetivos
A pesquisa foi um ensaio clínico prospectivo, randomizado e aberto, envolvendo 72 mulheres com melasma facial. As participantes foram divididas igualmente em dois grupos:
Um grupo utilizou creme com 5% de cisteamina;
O outro grupo aplicou creme com 2% de ácido kójico.
Ambos os produtos foram utilizados uma vez ao dia, à noite, por um período de 16 semanas. Os desfechos avaliados incluíram:
Redução no índice de gravidade do melasma (mMASI);
Quantificação da melanina nas lesões por mexametria (Courage + Khazaka, Alemanha);
Avaliação dermatológica da aceitabilidade cosmética;
Questionário sobre as características e aceitação do produto.
Resultados principais
Ao final das 16 semanas, os dois grupos apresentaram melhora clínica significativa, mas a cisteamina demonstrou uma leve superioridade numérica:
Redução média do mMASI:
Cisteamina 5%: 12,25%
Ácido Kójico 2%: 10%
Redução da melanina (mexametria):
Cisteamina 5%: 5,13%
Ácido Kójico 2%: 4,81%
Embora os dados não tenham sido estatisticamente significativos, é importante ressaltar que nenhum dos grupos apresentou efeitos adversos relevantes durante o estudo — reforçando a segurança de ambas as abordagens.
Interpretação e aplicação prática
Para nós, formuladores e prescritores, esses dados são extremamente valiosos. A cisteamina, por sua ação inibidora da tirosinase e modulação de vias redox envolvidas na melanogênese, vem se consolidando como um ativo promissor, principalmente para pacientes que não toleram a hidroquinona ou que desejam uma abordagem de manutenção mais segura.
Já o ácido kójico é um velho conhecido: bem tolerado, eficaz em muitos casos, e frequentemente usado em associações com outros despigmentantes. O estudo mostra que, embora ambos tenham resultados semelhantes, a cisteamina pode oferecer um leve benefício adicional, o que é clinicamente relevante em pacientes com melasma crônico e recalcitrante.
Conclusão
Este estudo reforça algo que já vínhamos observando na prática clínica: a cisteamina a 5% é uma excelente alternativa ao ácido kójico a 2%, com segurança e eficácia semelhantes — e, em alguns casos, até superiores.
Para quem formula ou prescreve, vale considerar a inclusão da cisteamina em protocolos noturnos, especialmente em pacientes que desejam resultados sem os riscos associados à hidroquinona. E para nós, que buscamos constantemente opções baseadas em evidência, é mais uma ferramenta bem-vinda no arsenal contra o melasma.
Se você quer entender melhor como formular com cisteamina ou deseja ter acesso a protocolos completos de clareamento baseados em evidência, acompanhe o blog e nossas próximas aulas!
Abraços!
Lucas Portilho
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Referência: Patil R, Dhoot D, Balasubramanian A, Patil S, Barkate H. Comparison of the Effectiveness and Safety of 5% Cysteamine and 2% Kojic Acid Creams in the Treatment of Melasma in Indian Adult Females. Cureus. 2025 Mar 28;17(3):e81330. doi: 10.7759/cureus.81330.
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